sexta-feira, novembro 2

Intrusos

Estava suspenso naquele halo de luz azul-clara que, alem de me fazer flutuar a quarenta centímetros do chão, impedia completamente meus movimentos. A sala onde eu me encontrava era circular e as paredes feitas de um tipo de metal branco. Meio metro a frente estava a porta automática por onde me conduziram até esta prisão e por onde voltavam para me buscar agora. Dois daqueles homens homens vestidos com aqueles trajes azuis, saídos de algum filme de ficção científica ou gibi dos X-Men. Sem dizer uma palavra, ou responder as minhas perguntas, me conduziram por corredores feitos do mesmo metal branco de minha cela, até chegarmos a um amplo salão retangular com grandes janelas em três de suas paredes. Meus condutores soltaram minhas mãos e saíram da sala. Somente quando ouvi a porta atrás de mim se fechando percebi que havia mais alguem na sala comigo, sentado numa mesa retangular, feita de mármore, no centro do aposento. Um homem alto, de barba e cabelos grisalhos, vestindo um uniforme semelhante aos que tinha visto antes só que totalmente branco.
- Sente-se. vamos conversar. - Disse ele, indicando a cadeira na outra ponta da mesa.
Obedeci e, sem dizer uma palavra, me sentei.
- Então é você o Famoso Hacker. Procurado em quinze países e dois continentes. Caçado pela CIA e Interpol. Responsável pela invasão aos sistemas da Geneticell e Dei Gratia. Provável autor dos roubos dos planos do novo satélite da NASA. Um currículo invejável, meu jovem...
- Estou sendo feito prisioneiro aqui? - Perguntei.
- Evidentemente. Invadiu nosso sistema.
Decidi ser objetivo como ele estava sendo.
- Quem são vocês? O que era tudo aquilo nos arquivos? Quem eram aqueles...aquelas...coisas que tentaram me matar?
O desconhecido se levantou e caminhou até a janela atrás de sí. De costas para mim, respondeu.
- Somos os protetores. Os guardiões que zelam pela sua espécie. Lutamos a décadas para defender a civilização humana das criaturas que atacaram você.
- E o que são essas "criaturas"?
- Monstros. Nada mais que monstros. O mal puro dotado de consciência que existe apenas para corromper e destruir sua raça. São seus algozes. Seus inimigos primordiais. Já estavam aqui antes que os ancestrais do gênero humano caminhassem sobre o planeta.
Toda aquela história parecia muito estranha pra mim, mas não poderia negar o que ví e enfrentei. Se existissem mais daquelas coisas, e aquele homem afirmava, com toda a certaza do mundo, existirem, a humanidade estava com sérios problemas.
O desconhecido continuou.
- Preocupado? - Perguntou ele, sem ser sarcástico. - Todos ficam, mais ou menos, do mesmo jeito, tem a mesma reação, quando descobrem a verdade.
Ele tinha razão. Estava muito preocupado. Aterrorizado até. Não havia como negar o que aconteceu comigo.
Voltei a perguntar.
- E onde entro nessa história?
Meu companheiro demonstrou espanto.
- Me pergunta uma coisa dessas? Invadiu nossos sitemas e roubou informações sobre nossa tecnologia. Só a posse desses dados já colocava sua vida em risco.
- Inocentes. Gente que não tinham nada a ver com isso morreu. Pessoas que eu amava foram mortas diante dos meus olhos e não pude fazer nada. - Suspirei, pesaroso.
- E culpa á nós por isso? - Ele olhou nos meus olhos enquanto perguntava. - Se meus homens demorassem um pouco mais talvez nem você estivesse aqui, agora.
Permaneci calado. Novamente ele dizia a verdade. Não havia o que responder.
Ele continuou.
- Em nenhum momento se perguntou sobre quem desejava aquelas informações? Quando ascessou os dados do arquivo não estranhou seu conteúdo? A natureza das armas que ele descrevia e sua finalidade?
- Não costumo especular sobre os interesses de meus clientes.
- Esse foi seu erro.
Segui-se um minuto de silêncio incômodo até que meu companheiro quebrasse a monotonia.
- Eles só o procuraram porque sabiam que você era um dos poucos, talvez o único, que conseguiria invadir nossos sistemas e roubar nossos arquivos, considerando-se a diferença existente entre a tecnologia da minha organização e a sua. Eles desejavam informações sobre nossas armas e você ia dar isso a eles.
- Mas não fui bom o suficiente para impedir que vocês me rastreassem e viessem atrás de mim. - Retruquei.
- Essa foi sua sorte. - Disse ele.
Pela terceira vez ele tinha razão. Se seus homens não tivessem invadido o apartamento no exato momento em que aquelas coisas tiravam de mim os arquivos, eu estaria morto.
- E agora? - Voltei a perguntar. - Agora que sei tanto sobre sua existência que, como é visível, trata-se de uma organização secreta, não poderei voltar nunca mais á minha vida normal.
- Evidentemente.
Conformado, indaguei.
- Se desejassem me matar já o teriam feito. O que vai acontecer comigo? Ficarei aprisionado aqui pelo resto de minha vida, não é mesmo?
- Não. De forma alguma. - Sorriu. - Vai se juntar a nós.