sexta-feira, dezembro 7

Alryn e os Cavaleiros das Estrelas

Em um algum lugar, longe deste mundo...
Os três companheiros terminaram por encontrar a passagem que os levaria até o salão que procuraram á exaustão, por dias, pelo complexo de túneis onde vagavam.
Imensas portas metálicas negras, grafadas com cenas de embarcações de aspecto alienígena, singrando a noite profunda, em meio á constelações de estrelas desconhecidas, surgiu á frente dos aventureiros. Com espanto, o grupo constatou que estavam abertas. As marcas ao longo da estrutura e os pedaços de metal e alvenaria antiga, espalhados salão adentro, mostravam que algo grande e muito poderoso, arrebentou as travas do imenso pórtico. Ao que tudo indicava, sem despender muito esforço.
A líder do grupo, Aurim, avançou salão adentro, cautelosa. Com passos curtos e calculados.
- Cuidado, clériga. – Alertou Jerek, companheiro de exploração e um de seus aliados mais confiáveis. - Não sabemos se quem fez isso se foi ou ainda está aqui.
Aurim acenou em aprovação ás palavras do guerreiro de cabelos negros e curtos. – Não tema, meu amigo. A magia dos deuses já me disse que não há nada vivo dentro deste salão.
Logo atrás deles, segurando a tocha que parcamente iluminava o caminho dos três, um homem de estatura magra e movimentos felinos, sugerindo, em contraparte ao seu porte físico, grande destreza, fazia o possível para lançar alguma luz dentro daquela imensa câmara, onde a escuridão parecia não ter fim.
Jerek se movimentou para o lado, de forma que o companheiro pudesse ficar entre ele e Aurim. – Não saia de perto de nós aqui dentro, salteador. Temo não podermos garantir sua segurança caso se afaste demais.
- Confio nos deuses de Aurim, lutador. Se eles garantem que estamos seguros aqui, nada me incomoda neste lugar.
- Devagar Elijah. – Disse Aurim, sem se virar, olhando fixamente para a escuridão á frente. – Os deuses mostraram que não há nada vivo aqui. Não que estamos á salvo.

Após atravessarem o grande espaço vazio, preenchido, até onde a luz da tocha de Elijah permitia examinar, por um agigantado domo, sustentado por maciças colunas cor de terra, chegaram até o outro extremo do salão. Aurim divisou o que parecia ser um altar, ou coisa parecida, pouco antes de chegarem á uma das paredes da lugar.
- É aqui. Jerek. Elijah. Tragam alguma luz.
Seus amigos prontamente atenderam o chamado. O guerreiro tomou a tocha das mãos do amigo, deitando – a próxima á estrutura que Aurim examinava. Com esse movimento, Elijah percebeu algo brilhando na parede á frente.
- Meus temores provaram – se verdadeiros. – Lamentou a clériga, examinando os relevos e reentrâncias do altar de rocha enegrecida. – A bússola foi levada. Alamar chegou antes de nós.
Jerek cerrou os dentes. - Foi o bastardo quem forçou a entrada. O tempo todo esteve á nossa frente. Vir até aqui foi perda de tempo!
- O altar imbuía – se com a magia da bússola. Se ela ainda estivesse aqui ele brilharia como um farol nesta escuridão, simulando a luz de contelações. Era muito simples saber se o artefato ainda estava aqui. Bastava procurar pela luz... – Dizia Aurim, frustrada.
O Guerreiro sentou- se pesadamente no chão da câmara, soltando um profundo suspiro. – Não se culpe, Aurim. Precisávamos vir até aqui e constatar com nossos próprios olh... O que está fazendo, salteador?
Elijah estava á sua frente. Havia acendido uma nova tocha que improvisara com trapos de sua mochila. Caminhava em direção á parede onde viu o brilho.
- O fato de não conseguirmos atingir nosso objetivo principal não significa que sairemos deste buraco de mãos abanando. Acho que vi algo de valor aqui dentro. Me dêem dez minutos.
Jerek se voltou para Aurim.
- O que faremos agora, clériga. Seus deuses nos dão alguma direção?
- Não é nescessária orientação divina para saber o que devemos fazer, meu amigo. Vamos deixar esta escuridão e subir de volta ao mundo da luz. Uma vez lá em cima, arrebanharemos mais aliados e partiremos no encalço de Alamar. Não há mais tempo á perder.
- Novos companheiros demandam dinheiro, Aurim. Quantidades significativas. Não acredito que o faro para ouro de Elijah garanta a quantia que precisamos.
- A causa á qual sirvo é grande, bastante difundida e nada modesta, Jerek. Lá em cima não precisaremos depender das empreitadas duvidosas de nosso amigo. Fique tranqüilo.
Os dois aventureiros se levantaram e preparavam – se para chamar por seu amigo. Foi Jerek quem primeiro percebeu que isso de nada adiantaria. Elijah estava morto faziam alguns minutos. Estirado poucos metros atrás dos dois. Um ferimento profundo cortava seu peito do pescoço até quase a virillha. O assassino também estava ali. Um pouco mais á esquerda. Imóvel. Esperando ser notado pelos outros dois.
- Aurim... - Sua voz gutural e sussurada pronunciou.
- Ementor. - A clériga dos deuses da luz clamou pela força de seus patronos e foi atendida. Um halo de energia prateada surgiu entre ela e a criatura, iluminando quase todo o salão. Jerek sacou sua espada e se colocou á seu lado.
O Monstro, uma massa de escuridão de três metros, simulando forma humana maciça, com brilhantes garras vermelhas nas mãos e olhos flamejantes, continuou. – Diga ao seu aliado que a arma dele é inútil contra mim.
Aurim, num movimento rápido, abriu caminho para Jerek que, entendo a estratégia, avançou e golpeou a criatura. A lâmina da espada emitiu um som grave e atravessou a lateral de seu braço. Ementor urrou de dor e, entre sacerdotisa e o guerreiro, assumiu posição defensiva.
- Meus deuses favorecem meus aliados, criatura. A espada de Jerek ressona com seu poder divino.
- Então está mais preparada desta vez. Nosso último encontro ensinou – lhe lições valiosas.
O ser de escuridão bruta atacou. Suas garras, direcionadas para o rosto da clériga, formam detidas pelo escudo de luz que a cercava.
O guerreiro se reposicionou e atacou.
- Mais uma vez, demônio! Grite pra mim!
Ementor se desfez numa nuvem de escuridão antes que a lâmina cantante de seu inimigo o acertasse novamente. Tomou forma novamente quando Jerek já estava atrás do mesmo escudo protetor que defendeu Aurim.
-Você não vencerá, criatura. Eu e meu companheiro extinguiremos sua forma maligna e partiremos no encalço daquele que o chamou do mundo escuro de onde veio!
A fera sombria fez menção de atacar novamente. Aurim foi mais rápida e estendeu uma das mãos em sua direção. Ementor parou subitamente. Sua face escura e inflamada com chamas sobrenaturais, denotava uma expressão de espanto. Aurim chamou novamente por seus deuses. Vocalizando num idioma perdido, a sacerdotisa clamava pelo retorno imediato do monstro ao reino sombrio de que era oriundo. A expressão de espanto de Ementor transformou – se num semblante de horror. Vórtices de energia luminosa dissolviam sua forma negra. Aurim bania – o de volta ao seu plano natal.
- Não! Amaldiçoada seja... Pelos lordes negros das trevas, NÃO!!!
Num esforço exaustivo, que certamente não conseguiria repetir se houvesse nescessidade, Ementor suplantou a força divina de Aurim e permaneceu no reino dos homens. Seus inimigos não se deixaram surpreender. Aurim encerrou seu clamor e deu passagem para Jerek, mais uma vez. O guerreiro não tentou repetir o mesmo ataque que falhara na última investida. Ao invés disso, concentrou – se na força sagrada de sua arma e, recitando um encantamento destravador, liberou uma onda de energia luminosa que, soando no mesmo timbre dos ataques da espada, partiu dela e atingiu Ementor em cheio, ferindo – o gravemente e o atirando metros á frente.
Jerek vibrava com a satisfação de um golpe bem aplicado. - Desgraçado. Vai pagar pelo que fez com Elijah. Sofrendo!
O monstro negro estava se levantando quando Aurim se aproximou. Foi a vez de Ementor mostrar suas habilidades. Sabia que não poderia suplantar o campo divino que protegia sua inimiga. Mas conhecia outras formas de alcançá - la. Estas, imateriais, não seriam bloqueadas pelo escudo dos deuses.
- Não preciso tocá – la, para causar – lhe prejuízo, fantoche da claridade! – Nesse momento a clériga foi ao chão com as mãos na cabeça. Sangue escorria de suas narinas e boca. Ementor atacara mentalmente. O escudo luminoso baixou. Jerek tentou ajudar a companheira.
- Aurim! – Gritou o combatente, golpeando Ementor mais uma vez. O som da espada cessou quando esta foi rechaçada por uma lâmina de pura escuridão que o monstro inimigo plasmou com sua própria matéria sombria.
- Não novamente, desgraçado! – Foi a vez de Jerek ser atirado longe por um golpe mais feliz de seu adversário, chocando – se contra uma das grandes pilastras que sustentavam o domo sobre o qual lutavam.
Aurim, de alguma forma recuperada do ataque de Ementor, se levantou. O inimigo foi tolhido de surpresa mais uma vez. Não esperava que a clériga pudesse desfazer o suplício mental ao qual foi submetida tão facilmente. Pagou caro por esse novo vacilar.
- Emanvrakda onminis altrakmovinuz! – Gritou a sacerdotisa, novamente apontando para seu inimigo. Um imenso martelo energético luminoso surgiu no ar e golpeou furiosamente Ementor várias vezes. O monstro não resistiu e caiu, prostrando – se diante de sua atacante.
- Maldita..
- Não precisamos continuar com este embate desgastante. – Disse Aurim ao monstro, sem atacá – lo. A arma mística que havia conjurado com o poder dos deuses se desfez no ar. – Você não quer ser destruído por mim e meu aliado ao passo que nós não queremos perder o tempo e as forças que sua destruição vai demandar.
Ementor, ainda no chão, olhou para Aurim.
- O que está propondo, clériga?
Aurim, em pé, á sua frente, não demonstrando nenhum desgaste, mesmo após o ataque devastador de Ementor, continou falando.
- Que cesse as hostilidades e nos deixe partir. Prometo que não o atacaremos mais e não buscaremos vingança pela morte de nosso amigo.
Ementor estava no limite de suas forças. Mais alguns minutos em batalha e as chances de ser derrotado por seus adversários era imensa. Esse pensamento ganhou força quando viu Jerek se levantar e, de espada em punho, assumir nova posição de combate. O guerreiro, entretanto, não atacou. Aguardava a solução da barganha oferecida por Aurim.
- Não sou deste mundo, mulher. Meu mestre me trouxe pra cá assegurando meu retorno após o cumprimento de minha missão. Sem ele não tenho condições de voltar por mim mesmo.
- Já viu que meus deuses podem enviá – lo de volta á terra das sombras, monstro. Sem dor ou sofrimento, desta vez.
Ementor pensou um pouco e perguntou.
- Seus deuses também podem me prover a segurança de não ser perseguido e destruído por meu mestre, caso ele livre – se de vocês e parta para acertar as contas comigo, em meu próprio mundo, em função de minha deserção?
Aurim se calou. Não. Não poderia garantir tal promessa.
- Então aqui permaneço. – Bradou Ementor, pondo – se de pé. – E aqui trago – lhes a morte.
A criatura atacou novamente.
- Maldita seja a sinceridade que os deuses lhe cobram, clériga! – Praguejou Jerek.
A sacerdotisa não estava com seu escudo protetor ativado. Foi atingida por um golpe de Ementor que atirou – a no umbral do grande pórtico por onde ela e seus amigos entraram. Olhou e viu a fera sombria correndo em sua direção, com a imensa espada sombria em punho. Vinha com grande velocidade. Aurim não teria tempo de levantar - se ou conjurar sortilégios protetores. Mas não foi isso que realmente aterrorizou – a. A atitude tomada por seu aliado guerreiro o fez.
Jerek clamou novamente pelo poder de sua espada e, desta feita, uma aura sobrenatural vibrante inundou toda a extensão da lâmina. Em seguida, seu aliado aplicou um golpe devastador que, ressonando no som familiar que caracterizava o poder da arma, transformou em pó a pilastra central do salão. Tudo veio abaixo. Aurim viu Ementor ser engolido pelos escombros. Não viu Jerek. Apenas ouviu – o.
- Fuja rápido mulher!
A clériga, sem poder fazer mais nada, tratou de lançar – se aos corredores por onde veio na maior velocidade que suas pernas lhe permitiam. O desabamento limitou – se somente á sala onde Jerek e Ementor foram sepultados. O restante do lugar, embora ainda tremesse um pouco, permenecera em pé.
- Jerek, seu tolo... Iríamos vencê – lo. – Mas era tarde demais pra dizer essas palavras. Os abalos logo cessaram por completo e o silêncio e a escuridão voltaram á se perpetuar mais um vez por toda a extensão da masmorra.
Após uma breve oração, pedindo que os deuses cuidassem da alma de Jerek, seu bravo companheiro de batalha e aliado fiel, Aurim se recompôs e conjurou uma magia luminosa. Levantou – se e, iluminando os imensos corredores ancestrais, tomou seu caminho para fora da masmorra. Sua missão continuava. A morte de seus amigos não seria em vão. Alamar seria detido.
A clériga não demorou á encontrar a saída. Também não demoraria, sabia ela, á encontrar os novos aliados que iriam ajudá – la em sua campanha.
Já do lado de fora, iluminada pela luz de uma tarde ensolarada, Aurim tirou um mapa de uma das bolsas em seu cinto e partiu rumo á cidade mais próxima que ele indicava.