terça-feira, setembro 16

Última noite

- Então você esperou a semana inteirinha pra estar comigo hoje? Foi isso que entendi? – Marcelo levantou o lençol e deitou – se ao lado de Mariana. A garota moveu – se em sua direção e o abraçou, colocando a cabeça sobre seu peito.
- Foi isso mesmo, sim senhor. E o lindo do meu namorado insensível ia se bandear com os amigos pra gandaia ao invés de passar uma noite fria de sábado ao lado da menina que ama.
Marcelo riu baixinho e beijou a namorada.
- Mas me lembrei do que combinamos e tratei de consertar as coisas.
- Que bom! Isso me deixa super feliz! – Disse Mariana, abraçando ainda mais forte Marcelo.
- Mas estou com uma coisa na cabeça...
- O quê, meu doce?
- O Alê deve ter ficado puto da vida. Eu vi a cara que ele fez quando te trouxe pra cá. Nem saiu do carro pra me cumprimentar.
O rapaz voltou seus olhos para cima e suspirou.
- Não esquenta. Ele vai entender. Depois eu falo melhor com ele.
- Eu gosto do Alê, Marcelo. Não quero que fique chateado comigo...
Ele beijou a namorada.
- Não vai ficar. Vamos nos falar. Você vai ver.
Um som veio da rua em frente. Um estampido ou coisa parecida. Como se alguém tivesse caído no chão. Somente Marcelo percebeu.
- Ouviu isso?
Mariana se levantou um pouco. Para tentar ouvir alguma coisa.
- Não. O que era?
- Parecia um barulho de alguma coisa caindo...
Marcelo se levantou e foi até a janela.
A cena, na rua em frente a casa de Mariana, era, no mínimo, curiosa. Duas pessoas estavam próximas á um carro. Um deles, um homem vestido com um terno escuro, jazia no chão, olhando para o outro homem em pé, á sua frente. Este, usando roupas também escuras, que, na parca iluminação da rua, Marcelo não conseguia distinguir com clareza, pareciam ser algum tipo de uniforme. O rapaz só percebeu tratar – se de algo grave quando homem do terno sacou uma pistola e apontou para ou outro. Este, entretanto, não esboçou medo algum. Apenas levantou uma das mãos. O homem com a arma pareceu estar tendo algum tipo de ataque epilético ou do coração pois largou a arma e, por alguns momentos, se debateu freneticamente. Poucos segundos depois desabou no asfalto da rua e não se moveu mais.
Estava morto. Marcelo sabia disso.
- Que merda! – O grito de espanto foi quase que reflexivo, quando Marcelo constatou a verdade dos fatos. O assassino ouviu e, virando – se, pode ver o rapaz na janela do outro lado da rua.
Marcelo abaixou a persiana ofegante e virou – se para falar com Mariana. Quase teve ele um ataque do coração ao ver que o estranho da rua estava agora dentro do quarto com ele e a namorada.
Mariana tentou dizer alguma coisa mas foi acometida pelo mesmo ataque que vitimou o outro homem do terno escuro. Caiu aos pés de Marcelo. Sangue escorria de seu nariz.
- Não! Mariana! NÃO!!!
O duplo homicida estendeu a mão para o rapaz. Marcelo sabia o que ia acontecer. Foi mais rápido e lançou – se como um louco pelos cômodos da casa de sua namorada, tentando fugir e salvar a própria vida. Chegou até a porta da sala. Estava trancada mas conseguiu encontrar as chaves na escrivaninha do telefone. Quase não acertou o buraco da fechadura. Quando abriu a porta seu horror foi indescritível. O assassino estava em pé do lado de fora. Ele só olhou Marcelo nos olhos e sua cabeça parecia á ponto de explodir. O rapaz foi ao chão, O nariz sangrava. Ele estava morrendo.
Marcelo ouviu o som de tiros. A dor lancinante que o aometia violentamente desapareceu. O assassino simplesmente fechou os olhos e caiu aos pés do rapaz. Atrás dele, Marcelo pode ver uma mulher, de longos cabelos negros, com feições orientais, usando um terno negro semelhante ao do homem que havia sido morto na rua, com uma pistola nas mãos. Foi ela quem atirou.
A mulher caminhou pra dentro da casa e Marcelo começou a se levantar. Antes que ficasse em pé, foi alvejado, á queima – roupa, pelos tiros disparados contra ele. Morreu rapidamente, sem sequer entender o que havia acontecido. Guardando a arma no coldre dentro de sua roupa, a desconhecida percorreu os cômodos restantes da casa. Chegou até o quarto e encontrou o cadáver de Mariana. Tocou um pequeno aparelho que carregava no ouvido e começou á falar.
- O alvo foi detido.
Aguardou alguns instantes e, após ter recebido uma resposta, continuou.
- Duas testemunhas civis. Uma morta pelo alvo e a segunda eliminada na operação.
Novas orientações lhe foram passadas através de seu dispositivo comunicador.
- Entendido. A equipe de coleta não seria a mais indicada. Temos o corpo de um dos agentes numa via pública, ao lado do local onde as testemunhas aparentemente viviam. Um pirocinético, de preferência acompanhado por um deslocador, será mais eficaz. Ainda resolvemos, com isso, o problema de uma possível contaminação.
Pela última vez a mulher recebeu instruções do comunicador e o desligou. Ao se voltar em direção á porta do quarto, deparou – se com o assassino em quem havia atirado minutos atrás, em pé, bem na sua frente. Sua expressão era de ódio. Muito ódio.
Do lado de fora da casa de Mariana, a janela aberta do quarto foi iluminada pelo clarão e o ruído de tiros, seguidos de um grito feminino quase sufocado.